Até onde se sabe, em uma guerra, apenas os inimigos devem ser atacados. Os aliados estão lá para dar apoio. Mas parece que na última sexta-feira, 4, o exército norte-americano se esqueceu desse princípio básico. A jornalista italiana Giuliana Sgrena foi ferida logo depois de ter sido libertada do cativeiro. Soldados dispararam contra o comboio que a conduzia sã e salva para o aeroporto de Bagdá. Além de Giuliana, dois integrantes do serviço secreto italiano ficaram feridos e outro morreu com um tiro na cabeça ao tentar protegê-la.
O episódio desastroso colocou um ponto final na alegria que tinha se espalhado por toda a Itália depois da divulgação da notícia da libertação da jornalista capturada há um mês nas imediações da universidade da capital iraquiana. Giuliana foi seqüestrada quando tentava se reunir com líderes iraquianos no sul de Bagdá. Os seqüestradores, membros do grupo Organização da Jihad Islâmica, ameaçaram executá-la em 48 horas se o governo italiano não retirasse suas tropas do país. Depois de várias reivindicações, através da Internet, em 16 de fevereiro os seqüestradores difundiram um vídeo no qual a jornalista implorava por sua libertação e pedia ao governo italiano que retirasse suas tropas do Iraque.
Coincidência ou não, pouco antes, o Parlamento italiano tinha aprovado a prorrogação da missão militar "Nova Babilônia", que mantém cerca de 3 mil soldados na cidade de Nassiriya, ao sul de Bagdá. E do jeito que a coisa vai, é melhor o contingente italiano e os aliados de outros países começarem a redobrar a atenção. A primeira desculpa esfarrapada para explicar a façanha ficou a cargo do sargento Don Dees, porta-voz do comando militar no Iraque. “Os soldados norte-americanos têm sempre o direito à autodefesa quando se sentem ameaçados”, afirmou. “O veículo se aproximava em alta velocidade”, tentou, em vão, justificar a trapalhada que não teve graça nenhuma.
Tanto no vídeo feito no cativeiro como depois de desembarcar na Itália, Giuliana Sgrena declarou que não sofreu maus tratos. A jornalista também assegurou que nunca mais voltará ao Iraque. Será que a repórter não voltaria nem no dia que a baderna provocada pelo presidente George W. Bush terminasse? Bom, para isso a força de ocupação norte-americana teria que se retirar para que a casa ficasse em ordem. Se esse dia está próximo ou não, nem Alá sabe.