Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

quarta-feira, 30 de março de 2005

Mais uma do Galvão

Deve estar para nascer alguém tão versátil como Galvão Bueno. Durante o empate em 1 a 1 entre Brasil e Uruguai, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa de 2006, nosso querido narrador global anunciou mudanças radicais em um tradicional esporte. Aos 38 minutos do segundo tempo, quase sem respirar, Galvão disse: "Neste final de semana tem Fórmula 1. É o Grande Prêmio do Barhein. O treino é sábado às 7. Domingo tem jogo às 8!". Incrível, não? Acho que desta vez a Ferrari vai entrar em campo para golear a Renault. Mas para realizar tal façanha, o heptacampeão Schumacher terá que trocar as sapatilhas por chuteiras. E o Rubinho, será que vai continuar esquentando o banco de reservas? Talvez só o Galvão Bueno tenha a resposta.

terça-feira, 29 de março de 2005

Um clamor surpreendente e poético

Há quem precise comprar leite. Outros preferem o tradicional arroz e feijão. Ainda têm aqueles que necessitam comprar remédios. Os mais práticos optam por um marmitex. Alguns usam todas essas justificativas para comprar drogas ilícitas ou uma dose cachaça. Infelizmente essa é a dura realidade daqueles que sobrevivem pedindo alguns trocados nas ruas, faróis e ônibus de São Paulo.

Hoje um adolescente subiu no ônibus que eu tomei para voltar para casa depois da aula de italiano e começou a distribuir fotocópias aos passageiros. Até aí nenhuma novidade. Mas se não fosse pelo poema e pelo pedido contido na folha, eu não teria colocado a mão no bolso para "comprá-la". Fiquei encafifado com a última linha do manuscrito xerocado. Se o jovem Alan é o autor dos versos, não sei. Porém, o pedido é muito original. Veja a transcrição abaixo e tire suas conclusões:

Ninguém

Ninguém é tão forte,
que nunca tenha chorado.
Ninguém é tão fraco,
que nunca tenha vencido
Ninguém é tão inutil,
que nunca tenha ajudado.
Ninguém é tão sábio,
que nunca tenha errado.
Ninguém é tão corajoso,
que nunca tenha medo.

Conclusão: Ninguém é tão ninguém que nunca precise de ninguém como eu preciso de você.

O certo é melhor pedir do que roubar. Estou na 6º série, preciso de um trocado, para comprar remédio de dor de cabeça, material escolar e também lanche no McDonald's. Gosto mais do Nº 1.

Um beijo, um abraço e um aperto de mão. Deus te abençoe. Alan, 17.

Mais direto impossível. Viva o Big Mac!!!

terça-feira, 22 de março de 2005

Dica "cultural" para a noite de terça-feira

Hoje é dia de mais um paredão no Big Brother Brasil 5. Milhões de telespectadores vão se emocionar com a saída de um dos concorrentes e ainda terão o privilégio de decidir quem será o eliminado. No 72º dia, a disputa é entre Pink, proprietária de um salão de beleza em Recife, e Jean, professor universário em Salvador. O apresentador Pedro Bial anunciou a decisão no último domingo como algo impensável e improvável. Afinal, de acordo com as imagens das câmeras que estão por toda a parte da casa do BBB, ambos juram que são amigos inseparáveis. Mas será que supostamente em uma grande final a dupla abriria mão do prêmio de R$ 1 milhão em nome dessa amizade? A dúvida nunca será esclarecida porque hoje um dos dois vai ter que sair. Que pena, né?

E você, caro leitor, caso queira, poderá acompanhar durante algumas horas a decisão cheia de suspense logo após a novela da 9. Mas o que são algumas horas se pensarmos que 14 participantes se dispuseram a largar tudo para ficar durante três meses enfurnados em uma casa e largaram seus estudos, empregos e famílias. Garanto que a esmagadora maioria dos 170 milhões de brasileiros não pode se dar ao luxo de jogar tudo para o alto e optar por tamanho privilégio. Depois ainda há quem diga que a casa é um retrato fiel do país. Só não sei de qual país! Realmente, a Rede Globo selecionou um grupinho bastante seleto de pessoas que não tem nada a perder e trocam o certo pelo incerto em busca de alguns instantes de fama até cairem no mais cruel ostracismo.

Se os concorrentes são corajosos, creio que os telespectadores também possuem uma força descomunal para digerigem a vida dos desocupados que habitam a casa. Não é fácil acompanhar a rotina dos participantes que arquitetam 24 horas por dia maneiras de puxar o tapete do outro para levar o prêmio e, no mínimo, desfilar suas formas esculpidas em academias em um programa de televisão. Haja ganância e narcisimo! Será que dá para agüentar tudo isso?

sexta-feira, 18 de março de 2005

Do prazer de viajar I

O tempo é relativo durante uma viagem. Curta ou longa, próxima ou distante do ponto de partida, por apenas um instante - cronometrá-lo é inútil - experimentamos sensações que talvez nunca poderíamos ter imaginado sentir antes. Presenciamos cenas que jamais existiriam. O nariz absorve odores que ficariam esquecidos em algum canto do mundo. A língua entra em contato com aquilo que é estranho, mas deixa saudade mesmo sendo agradável ou não para o paladar. Os tímpanos vibram em um ritmo novo de acordo com os sons ou ruídos do lugar. E as mãos ficam marcadas para sempre por aquilo que antes era apenas um objeto inatingível. É fácil esquecer de nós mesmos quando contemplamos imagens, descrições verbais ou escritas. Temos a fantástica capacidade de nos fundir com aquilo que vemos, cheiramos, saboreamos, ouvimos e tocamos. Mas como isso tudo nos transforma?

quarta-feira, 16 de março de 2005

A verdadeira história do buquê

Por que será que todo mundo quer se casar em maio? Já adianto que a tradição não tem nada a ver com superstições ou motivos religiosos. Para responder à pergunta é necessário viajar no tempo. Na Europa, durante a Idade Média, junho era o mês das noivas. Mas o primeiro banho do ano acontecia em maio. Isso porque, no hemisfério norte, nessa época, o tempo começa a esquentar. Mesmo acreditando piamente que o frescor do banho tomado no mês anterior permanecia, as noivas se precaviam ao levar ramos de flores perfumadas durante a cerimônia para disfarçar os odores desagradáveis que exalavam.

O problema é que os buquês não eram milagrosos o suficiente para garantir um casório cheirosinho. As noivas não sabiam o que era uma escova de dentes, nem haviam sido apresentadas ao sabonete e o referido banho era tomado por toda a parentada em uma única tina enorme cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio de entrar primeiro na água limpa. Depois, sem trocar a água, vinham, por ordem de idade, os outros homens da casa, logo em seguida, as mulheres, também respeitando a idade, e, por fim, as crianças. O banho dos bebês ficava por último. Quando chegava a vez deles, a água já estava tão suja que não era difícil perde-los lá dentro.

quinta-feira, 10 de março de 2005

As manias pouco saudáveis do camarada Mao

Reconhecido como um dos maiores estadistas do século 20, Mao Tse Tung foi responsável por mudanças radicais na China. Graças ao seu espírito revolucionário, plantou as sementes para que o país se transformasse na superpotência econômica que é atualmente. Embora extremamente ambicioso e preocupado com os destinos da nação que governou, desistia da sua higiene pessoal na mesma proporção em que ficava mais poderoso. Mas isso não atrapalhava a vida amorosa do Grande Timoneiro. Nenhuma mulher o ignorava. Envolveu-se com tantas que até perdeu a conta.

Apesar de ser extremamente culto, gostava de falar abertamente sobre os movimentos dos seus intestinos. Quando fazia muito calor, sem a menor cerimônia, tirava as calças na frente dos convidados. Só ingeria alimentos de cheiro forte, que provocavam um tremendo bafo de dragão chinês. E para piorar ainda mais sua saúde bucal, a certa altura de sua vida parou por completo de escovar os dentes. Trocou a escova pelas folhas de chá verde que esfregava quando achava necessário. Por causa desse habito, com o tempo, sua dentição acabou ficando recoberta por uma película esverdeada. Também desistiu de se lavar por considerar uma completa perda de tempo. Para evitar a total imundice corporal, seus criados passavam uma toalha úmida pelo corpo de Mao todas as noites, enquanto examinava documentos, lia ou jogava conversa fora com outros camaradas.

Example
Pelo menos no retrato, fez questão de não exibir o sorriso esverdeado

Uma verdadeira máquina de fazer sexo

Certo dia, foi submetido a um exame médico e descobriu que seu prepúcio estava apertado e difícil de puxar. O testículo esquerdo se mostrava menor que o normal e o direito permaneceu escondido na cavidade abdominal desde a infância. Quando isso lhe foi apontado, Mao estava com 60 anos! Até então, inacreditavelmente, nunca percebeu que a maioria dos homens possui dois testículos. Mesmo com essa imperfeição anatômica, o mau hálito e o sorriso cor de musgo, nenhuma mulher negava ir para cama com Grande Timoneiro. Teve inúmeras namoradas e amantes, além de se casar várias vezes. Mesmo sexagenário, preferia dormir com várias jovens camponesas na mesma cama. Incentivava as amantes a apresenta-lo a outras mulheres.

Com essa vida sexual incansável, as doenças sexualmente transmissíveis eram inevitáveis. No entanto, as mulheres não se incomodavam com esse detalhe. A maioria ficava feliz quando descobria que havia sido contaminada por ninguém menos que Mao Tse Tung. Carregar a doença era um troféu, ou seja, uma prova que passaram pelo menos uma noite de amor com o camarada. É, Henry Kissinger tinha razão: “O poder é o maior dos afrodisíacos”. Além disso, entorpece e alucina. O Grande Timoneiro, apesar de tudo, era simplesmente irresistível e encantador.

quarta-feira, 9 de março de 2005

Cleópatra, que nojo!

Hoje em dia homens e mulheres têm à disposição uma vasta gama de métodos contraceptivos para todos os gostos e bolsos. Apenas os casais descuidados podem ser surpreendidos nove meses depois de uma noite de amor com o nascimento de um lindo bebê. Mas antigamente era bem mais complicado se prevenir. Não haviam farmácias, ginecologistas nem urologistas.

No Egito Antigo, a rainha Cleópatra exerceu forte influência sobre os destinos do Império Romano, graças às relações amorosas que manteve com Júlio César e Marco Antônio. Mesmo sem conhecer a pílula anticoncepcional, Cleópatra não deixava de se de preocupar com uma provável gravidez indesejada. Para se prevenir, possuía uma receita no mínimo mal cheirosa. Seus serviçais recolhiam fezes de crocodilo e elefante. Logo em seguida, misturavam o material e adicionavam um pouco de mel, talvez, para tentar disfarçar o odor desagradável. Por fim, a rainha do Nilo introduzia o preparado na vagina e o deixava lá fermentando por um mês.

Nenhum historiador ainda conseguiu descobrir se a mistura era realmente eficiente ou se os seus parceiros não conseguiam encarar o perfume que suas partes pudentas exalava. As más línguas diziam que nem com gripe alguém tinha estomago forte o suficiente para fazer sexo oral em uma das mais belas mulheres que já existiram. Francamente, só sendo muito bonita mesmo para agüentar aquele cheirinho de jaula de zoológico abandonado na hora H. O que realmente se sabe é que o composto produzia ácido lático. A substância consegue matar os espermatozóides e está presente na maioria dos espermicidas modernos. Ainda bem que a ciência avançou consideravelmente e não dependemos mais daquilo que crocodilos e elefantes fazem para que possamos escolher a hora certa de encarar a materninade.

segunda-feira, 7 de março de 2005

Aliados sofrem com a balbúrdia promovida pelos EUA no Iraque

Até onde se sabe, em uma guerra, apenas os inimigos devem ser atacados. Os aliados estão lá para dar apoio. Mas parece que na última sexta-feira, 4, o exército norte-americano se esqueceu desse princípio básico. A jornalista italiana Giuliana Sgrena foi ferida logo depois de ter sido libertada do cativeiro. Soldados dispararam contra o comboio que a conduzia sã e salva para o aeroporto de Bagdá. Além de Giuliana, dois integrantes do serviço secreto italiano ficaram feridos e outro morreu com um tiro na cabeça ao tentar protegê-la.

O episódio desastroso colocou um ponto final na alegria que tinha se espalhado por toda a Itália depois da divulgação da notícia da libertação da jornalista capturada há um mês nas imediações da universidade da capital iraquiana. Giuliana foi seqüestrada quando tentava se reunir com líderes iraquianos no sul de Bagdá. Os seqüestradores, membros do grupo Organização da Jihad Islâmica, ameaçaram executá-la em 48 horas se o governo italiano não retirasse suas tropas do país. Depois de várias reivindicações, através da Internet, em 16 de fevereiro os seqüestradores difundiram um vídeo no qual a jornalista implorava por sua libertação e pedia ao governo italiano que retirasse suas tropas do Iraque.

Coincidência ou não, pouco antes, o Parlamento italiano tinha aprovado a prorrogação da missão militar "Nova Babilônia", que mantém cerca de 3 mil soldados na cidade de Nassiriya, ao sul de Bagdá. E do jeito que a coisa vai, é melhor o contingente italiano e os aliados de outros países começarem a redobrar a atenção. A primeira desculpa esfarrapada para explicar a façanha ficou a cargo do sargento Don Dees, porta-voz do comando militar no Iraque. “Os soldados norte-americanos têm sempre o direito à autodefesa quando se sentem ameaçados”, afirmou. “O veículo se aproximava em alta velocidade”, tentou, em vão, justificar a trapalhada que não teve graça nenhuma.

Tanto no vídeo feito no cativeiro como depois de desembarcar na Itália, Giuliana Sgrena declarou que não sofreu maus tratos. A jornalista também assegurou que nunca mais voltará ao Iraque. Será que a repórter não voltaria nem no dia que a baderna provocada pelo presidente George W. Bush terminasse? Bom, para isso a força de ocupação norte-americana teria que se retirar para que a casa ficasse em ordem. Se esse dia está próximo ou não, nem Alá sabe.

quinta-feira, 3 de março de 2005

Nasce um novo Galvão

Errar é humano. Persisitir no erro é burrice. Pelo menos os locutores esportivos se enganam e não cometem sempre os mesmos equivocos. É por isso que durante uma transmissão, seja futebol, Fórmula 1 ou até mesmo campeonato de palitinho, cada qual presenteia os telespectadores com verdadeiras pérolas. O locutor Galvão Bueno é talvez o maior recordista na invenção de bordões mais grudentos que chiclete deixado em baixo de poltronas do cinema e campeão disparado na criação de conclusões esdrúxulas. Um bom exemplo para ilustrar seu refinamento em matéria de frases inesquecíveis aconteceu antes do amistoso entre Brasil e Inglaterra, durante uma falha na iluminação do estádio de Wembley, em fevereiro de 2001. Galvão afirmou com toda convicção: "O juiz deve adiar a partida para depois!". Mais claro e direto, impossível.

Com emoção saindo por todos os poros, o locutor, apelidado pela trupe do Casseta & Planeta de Gavião Bueno, consagrou-se ao narrar as vitórias do tricampeão mundial de Fómula 1, Ayrton Senna, nos anos 80 e 90. Quem não se lembra do famoso "Ayrton Senna do Brasil". O piloto que era da Silva, ganhou um sobrenome bem mais patriótico. Gavião, perdão, Galvão também ficou famoso por se esguelar sem parar ao berrar, urrar e gritar quando a seleção brasileira faz um gol tanto em partidas amistosas que não valem absolutamente nada como em finais de Copa do Mundo. Isso sem falar no seu talento único e imbatível em pronunciar a letra R como ninguém. O atual dono da camisa 9 da seleção não pode colocar os pés ou esbarrar de leve na bola que o grito de Rrrrrrrrrrrrronaldinho sai de sua garganta com tanta força que assusta qualquer um. Quem mandou o craque ter sido batizado com esse nome tão sonoro.

Cléber Machado, por sua vez, com um estilo bem mais discreto e contido, ocupa o posto de tapa-buraco oficial da Rede Globo. É como se fosse o Rubens Barrichello das transmissões esportivas. Quando o Schumacher, ou melhor, Galvão Bueno, não está com vontade de narrar um jogo ou corrida, lá vai o Cléber. Ontem, durante partida válida pela Taça Libertadores da América entre Cerro Porteño e Palmeiras, no Paraguai, o Rubinho da Globo não ficou devendo nada para seu colega. Aos 27 minutos do segundo tempo, Osmar recebeu um passe de Magrão e, na saída do goleiro, deu um toque sutil, mandando a bola para o fundo da meta paraguaia. Assim o Verdão arrancava um empate sofrido que persistiu até o fim da etapa complementar. Para comemorar a mudança no placar, o locutor soltou o ar dos pulmões e gritou cheio de vibração: "Olha aí o gol do Brasil".

Mas espera aí! Até onde eu sei, a equipe do Parque Antártica joga com camisas verdes e a seleção brasileira sai a campo com a temida canarinho. Além do mais, o Cléber Machado não é daltônico até que alguém prove o contrário. Eu, como palmeirense, devo confessar que fiquei bastante animado com o elogio. No entanto, pensando bem, o Palmeiras versão 2005 está muito aquém daquilo que foi na década de 90.

É só o Galvão Bueno que mantém uma vasta galeria de derrapadas? Claro que não! Aos poucos Cléber Machado cria um acervo bastante interessante de escorregões. Em 2002, o goleiro titular da seleção espanhola, Cañizares, ficou fora da Copa realizada na Coréia do Sul e no Japão porque cortou o pé ao deixar cair um vidro de perfume. O locutor tentou consolá-lo e disse: "Pelo menos ele ficou com o pé cheiroso!". Depois dessa, só me resta parabénizar aos locutores que são um espetáculo a parte quando estão inspirados e conseguem divertir os telespectadores com suas incríveis pérolas antológicas.

ExampleToma cuidado, Galvão! Cléber Machado vem aí correndo por fora e poderá destroná-lo!

quarta-feira, 2 de março de 2005

Sábado é dia de ônibus mais caro

A prefeitura de São Paulo abriu o mês de março com um anúncio que afetará a parte mais sensível do corpo de quem depende do transporte público: o bolso. A partir de sábado, 5, a tarifa dos ônibus municipais aumentará de R$ 1,70 para R$ 2,00, um reajuste de 17,65%. Mas qual é a importância de uma reles porcentagem para o trabalhador que acorda todos os dias, muitas vezes, antes do sol raiar para esperar pelo busão lotado? O desempregado que sai de casa para procurar trabalho e se desfaz do pouco que resta de suas economias será que também se importa com esse mero detalhe numérico? É claro que não! Eles estão realmente preocupados em como farão para pagar a passagem. Afinal, o salário mínimo não vai subir mais neste ano. Só o salário dos deputados federais, que não tem nada de mínimo, chegará, provavelmente, aos R$ 19.100. Se os deputados quisessem, poderiam embarcar 9.550 vezes nos coletivos da capital paulista. Já quem recebe R$ 300 faria apenas 150 viagens.

Example
Com a tarifa tão cara essa imagem poderia ser comum, mas ninguém é atleta o suficiente para percorrer a cidade e chegar a tempo no trabalho ou na escola

Aí, alguém diz: "Ah, são só trinta centavos!". Mas quanto gasta, durante um mês, quem toma duas conduções para chegar ao trabalho e outras duas para voltar para casa cinco vezes por semana? Até sexta-feira, seriam R$ 136. No entanto, em meados de abril a conta alcançará os R$ 160.
Os R$ 0,30 que pareciam não ser nada, acumulam-se e transformam-se em R$ 24. Então outra pessoa pode perguntar o que se faz com esse dinheiro. O trabalhador que já entende mais de economia que um ministro porque é obrigado a se desdobrar para pagar as contas em dia tem a resposta na ponta da língua. Sem exitar afirmaria: "Só encurtando o mês!". Infelizmente, como esse tipo de milagre não acontece, a solução é deixar de passear com a família aos finais de semana ou até mesmo comprar um churrasco grego de R$ 0,50 com direito a um suco grátis nas proximidades dos terminais de ônibus da Praça da Sé ou do Largo 13 de Maio, depois de uma longa jornada de trabalho. Barrigas vão roncar durante o retorno ao lar e os vendedores perderão clientes. Vale a pena lembrar que no início do Plano Real, em julho de 1994, os cobradores só recebiam dos passageiros uma moeda de R$ 0,50. Já o sanduíche, que muitos torcem o nariz quando vêem aquele monte de carne empilhada de origem duvidosa, não mudou de preço desde que o governo federal disse que CR$ 2.750 passariam a valer R$ 1.

Enquanto isso, até agora, a administração do tucano careca fez apenas um investimento no transporte público. Os adesivos com o logotipo da gestão anterior foram retirados da lateral dos ônibus. Essa medida saiu cara, né? Para a prefeitura talvez não. Mas para o passageiro que reservará a partir de sábado mais R$ 0,30 para passar pela catraca do busão, o investimento não serviu para coisa alguma. Nada melhor que um reajuste para comemorar o aniversário de três meses da nova gestão. E quem paga a conta é o povo que não foi convidado para a festa e nem conseguiria chegar a tempo, pois o ônibus, provavelmente, demoraria para passar no ponto. Vai ver, algum funcionário deve estar retirando um dos poucos adesivos que restaram.

terça-feira, 1 de março de 2005

A breve história do meu avô

Atendendo aos inúmeros pedidos e cumprindo a promessa da última quinta-feira, segue abaixo a tradução do texto La piccola storia del mio nonno, publicada em 24 de fevereiro de 2005.

A maioria dos paulistas descende de imigrantes. O meu caso não é diferente. Graças ao meu avô, Silvino Augusto Sonim, eu tenho sangue português correndo nas minhas veias. Ele viajou duas vezes para cá e agora reside definitivamente no Brasil.

Na primeira oportunidade, chegou com apenas um ano e retornou com nove. Morou no bairro de Pinheiros. Com olhos de criança, recorda-se de ter visto o dirigivel Zeppelin voando no céu da cidade e testemunhou a construção do edifício Martinelli, o primeiro da futura metrópole.

Já nos anos 50, depois de ter trabalhado como agricultor e servido o exército em Portugal, retornou ao Brasil casado e com dois filhos. O primogênito, mais tarde, casou-se com uma brasileira filha de portugueses e neta de espanhóis, e tornou-se meu pai. Depois de chegar pela segunda vez no porto de Santos, foi morar em uma pequena casa sem eletricidade no bairro da Vila Sônia.

Se a situação estava difícil em Portugal em virtude da ditadura de Salazar, os primeiros tempos em terras brasileiras também não foram fáceis. Para garantir o sustento da família, saia todas as madrugadas em sua carroça e entregava pão nas casas da região. Depois de muitas madrugadas de frio ou chuva, no início dos anos 60, alugou uma casa no bairro do Itaim e montou um bar. Com a ajuda da minha avó, atendia os clientes. Dez anos mais tarde, comprou uma casa no primeiro bairro onde morou quando ainda era criança e abriu uma lanchonete com seu filho, que hoje é meu pai. Lá vive até hoje, infelizmente, viúvo e recebendo aquilo que o governo chama de aposentadoria.