Cuspido das entranhas da terra
Mesmo sem saber ao certo para onde ia, o trem do metrô o levava para algum lugar. Parecia fazer parte de um longo e penoso processo de digestão. O aperto do vagão provocava calor. Também se sentia sufocado. Havia muita gente além dele. Ninguém conseguia se mexer. Era como se estivesse dentro de um estômago cheio de comida. Quando o vagão parou repentinamente entre duas estações, o calor aumentou. O suor ensopava suas roupas e as gotas que corriam em sua face pareciam corroer a pele. Queria escapar antes que do final daquela viagem. O vagão seguiu seu caminho e parou em uma estação. Saiu sem precisar se mover. O movimento da multidão o transportou para fora do vagão. Depois aproveitou uma minúscula brecha, tomou impulso, correu para procurar a saída. Avistou a catraca, mas antes tinha que transpô-la. Empurrou a barra com a cintura e avistou a escada rolante. Porém, preferiu subir a escada ao lado dando largas passadas de dois em dois degraus. Achou que tinha saído, mas foi expelido. Fazia parte da multidão que chegava à calçada e a sujava como se fosse o vômito de alguém que havia comido mais do que podia.