Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

domingo, 17 de dezembro de 2006

Cuspido das entranhas da terra

Mesmo sem saber ao certo para onde ia, o trem do metrô o levava para algum lugar. Parecia fazer parte de um longo e penoso processo de digestão. O aperto do vagão provocava calor. Também se sentia sufocado. Havia muita gente além dele. Ninguém conseguia se mexer. Era como se estivesse dentro de um estômago cheio de comida. Quando o vagão parou repentinamente entre duas estações, o calor aumentou. O suor ensopava suas roupas e as gotas que corriam em sua face pareciam corroer a pele. Queria escapar antes que do final daquela viagem. O vagão seguiu seu caminho e parou em uma estação. Saiu sem precisar se mover. O movimento da multidão o transportou para fora do vagão. Depois aproveitou uma minúscula brecha, tomou impulso, correu para procurar a saída. Avistou a catraca, mas antes tinha que transpô-la. Empurrou a barra com a cintura e avistou a escada rolante. Porém, preferiu subir a escada ao lado dando largas passadas de dois em dois degraus. Achou que tinha saído, mas foi expelido. Fazia parte da multidão que chegava à calçada e a sujava como se fosse o vômito de alguém que havia comido mais do que podia.