Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

segunda-feira, 30 de maio de 2005

Um simples conselho

Depois do oba-oba vem sempre o epa-epa!

segunda-feira, 23 de maio de 2005

O texto mais curto

As palavras são traiçoeiras.

terça-feira, 3 de maio de 2005

Quem te viu, quem te vê

Até parece que os personagens criados pela mídia são obras de pura ficção científica. Conhecidos apenas por um nome de fácil compreensão ou apelido esdrúxulo, há quem pense que passam 24 horas por dia maquiados, penteados e fantasiados. Alguns acreditam que nem precisam ir ao banheiro. Mas, apesar de possuírem uma aparente, porém falsa, aura de invencibilidade, quando menos se espera, o público fica cansado daquilo e muda de canal. O controle remoto e o esgotamento da fórmula repetida à exaustão provocam o desaparecimento dessas criaturas sem vida própria. Não são poucos os casos das estrelas que perdem o brilho e tentam de tudo para ter novamente alguns minutinhos de fama .

Suzana Alves surgiu de repente no programa H da TV Bandeirantes, no final dos anos 90 já do século passado. Concebida pelo então solteiro Luciano Huck e conhecida como a Tiazinha, preservava sua verdadeira identidade ao aparecer mascarada na TV encarnando a sadomazoquista. Raramente abria a boca para falar. Possuia a exclusiva função de depilar com cera fria a perna peluda de garotões que se estapeavam para deitar na sua maca. Não era difícil ser contemplado com a tal depilação gratuita. Bastava errar uma pergunta de conhecimentos gerais proposta pelo apresentador. Com a concentração e o raciocínio comprometidos pelo rebolado da moçoila, muitos acreditavam que o Topo Gigio havia descoberto o Brasil em 1888, ano em que a Vovó Mafalda casou-se com Dom Pedro I.

A dura realidade

Ainda famosa e mesmo vestindo lingeries minúsculas que não escondiam quase nada, muita gente correu para as bancas de jornal quando ela resolveu ficar completamente nua. No entanto, ainda faltava mostrar uma coisa. Então a cena se repetiu. A moça apareceu como veio ao mundo mais uma vez, porém sem a máscara. Tempos depois, já em franca decadência e falando pelos cotovelos, acreditou que poderia ser cantora e atriz. A teimosia lhe rendeu a gravação de um CD repleto de atentados ao ouvido dos poucos que tiveram coragem de comprá-lo, além de um seriado de TV que mal durou um mês. Depois dos dois fracassos, quando tudo já estava perdido, saiu por aí jurando que viu um disco-voador na Marginal do Tietê às seis horas da tarde. Por fim, participou da segunda edição da Casa dos Artista, mas saiu logo nas primeiras semanas. Já sem máscara, com roupas mais comportadas e ridicularizada pelo fato de ter visto um OVNI que na verdade era o dirigível da Goodyear, refugiou-se sabe se Deus onde e caiu no mais completo ostracismo.

Porém, no último sábado a Tiazinha reapareceu. Completamente anônima, caminhava com ar de intelectual pela seção de livros da Fnac da Avenida Paulista. Sem dar nenhum autógrafo ou sorrisinho para fãs mais tímidos que não teriam coragem de se aproximar daquela mulher com menos de 1,60 metro, fazia compras sem nenhum tipo de aborrecimento. Como os tempos são outros, nenhum adolescente, adulto ou velho tentou despi-la com os olhos. Só uma funcionária alertou um caixa sobre a presença da ex-estrela de TV. O rapaz que pelo menos uma vez na vida deve ter babado alguns mililitros de saliva ao vê-la rebolando na telinha, não se lembrava da Suzana Alves, da Tiazinha nem, de acordo com as próprias palavras da vendedora, “daquela mina que depilava os caras, no programa daquele narigudo que casou e teve um filho com a Angélica.". O funcionário de memória curta a atendeu burocraticamente, recebeu o pagamento em dinheiro e colocou na sacolinha o livro comprado naquela tarde fria e chuvosa de outono.

Antes que eu me esqueça de contar, o livro que a ex-apresentadora-modelo-cantora-atriz-e-sei-lá-mais-o-que levou para casa é O Patinho Feio. Repleto de ilustrações, a leitura da noite de sábado deve ter sido extremamente cultural. É, fora da TV, Suzana Alves tem um futuro bastante promissor. Quando realmente virar tia, e não mais uma mera tiazinha, vai poder contar para seus sobrinhos uma bonita e comovente história infantil com um lindo final feliz.