Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

quinta-feira, 15 de junho de 2006

O primeiro gol a gente nunca esquece

Ridícula. Essa palavra resume a estréia da seleção brasileira em Copas do Mundo. No mundial de 1930, no Uruguai, o Brasil entrou em campo apenas duas vezes. A campanha pífia, uma derrota e uma vitória, deveu-se, principalmente, à rivalidade entre paulistas e cariocas. A Confederação Brasileira de Desportos convocou jogadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas montou uma comissão técnica apenas com cariocas. Furiosa, a Associação Paulista não liberou seus 12 atletas. O boicote enfraqueceu bastante o time. Somente um paulista, o rebelde Araken Patuska, viajou para Montevidéu, porém, inscrito como jogador do Flamengo.

Já o primeiro gol, esse aí pode ser definido como inútil. Preguinho, o primeiro jogador a estufar as redes vestindo a camiseta da seleção, abriu o marcador contra a Iugoslávia. Porém, a seleção iugoslava virou o jogo, marcando dois gols. A seleção ainda goleou por quatro a zero a fraca Bolívia. No entanto, o resultado não garantiu a classificação para a segunda fase.

Um atleta completo até debaixo d’água

Pioneiro do Brasil em Copas do Mundo, João Coelho Neto, o Preguinho, ganhou o apelido graças a um talento esportivo um tanto peculiar desenvolvido na infância. Um grupo de meninos que brincava na praia do Flamengo atirou seu corpo franzino no mar. João afundava várias vezes e voltava à superfície, como se fosse um prego. Nadou assim até chegar são e salvo à areia.

E Preguinho continuou nadando e, além da natação, também se destacou em outras sete modalidades: futebol, vôlei, basquete, pólo aquático, saltos ornamentais, hóquei sobre patins e atletismo. Ele ganhou 387 medalhas e contribuiu para 55 títulos do Fluminense. Entrou para a galeria dos artilheiros do clube, com 184 gols marcados e foi o segundo cestinha de basquete.

Example
Eis uma imagem do Preguinho. Nesse dia, ele preferiu jogar futebol

Sempre se recusou a receber dinheiro do clube e permaneceu como amador mesmo após a profissionalização do futebol. Jogou na equipe da Laranjeiras de 1925 a 1934. Em 1925, depois de nadar na prova dos 600 metros e ajudar o Fluminense a ser tricampeão estadual de natação, foi de táxi às Laranjeiras a tempo de jogar contra o São Cristóvão e ganhar o Torneio Início. Depois de chutar, arremessar, correr, nadar e patinar sem parar, morreu em 1979. Teve direito a duas homenagens: a construção de um banheiro de pombas em formato de busto, estratégicamente instalado na sede do clube, e o ginásio do Fluminense foi batizado com o nome dele.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Dois finais nada felizes

Sentado em uma poltrona, às vezes não muito confortável, dei boas risadas e derramei muitas lágrimas. Algumas cenas projetadas na tela grande são indiscutivelmente inesquecíveis. Os momentos vividos dentro e fora da sala de cinema também ficaram gravados na minha memória. No entanto, agora, só tenho razões para ficar triste. Rir do quê? Desta vez as histórias são reais e os finais, infelizes. Os projetores de dois cinemas paulistanos nunca mais serão ligados. As bilheterias não vendem mais ingressos no Top Cine, na Avenida Paulista desde a semana retrasada. E na última quinta-feira, o Vitrine, na rua Augusta, deixou de existir depois de 30 anos.

Nem tive tempo de me despedir pessoalmente. Só me resta guardar a lembrança das duas salas do cinema da Paulista e das três que ficavam na Augusta. O Top Cine, apesar do cheirinho de mofo, me apresentou ao cineasta francês François Truffaut e inúmeros outros cineastas que, embora menos conhecidos, mostraram que cinema não possui fronteiras. O Vitrine me acordou em várias manhãs preguiçosas de domingo. Mesmo com sono, mas com alguma disposição, assisti à produções francesas boas, razoáveis e muito ruins, em ciclos de cinema organizados pela Aliança Francesa. Não posso me esquecer dos cafés da manhã incluídos no preço do ingresso. Com 4 reais enganava o estômago com quitutes que muitas vezes acompanhavam a qualidade dos filmes.

O final deste texto será curto, porém doloroso. Fechado, talvez, para todo o sempre, somente o mofo vai poder freqüentar o Top Cine. Já o Vitrine, vai pagar todos os seus pecados. Em breve, suas duas salas serão convertidas em uma igreja evangélica.