Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Bola fora no cinema

Todo mundo fica tenso durante a Mostra Internacional de Cinema . A tensão está sempre ligada ao tempo curto e a imensa quantidade de filmes em cartaz. Em duas semanas mesmo sendo impossível assistir aos 420 filmes da 30ª edição, todo mundo que admira a sétima arte está dando um jeitinho de pegar o maior número possível de sessões. Nas imensas e intermináveis filas das bilheterias ou das salas de projeção, percebe-se claramente a angústia dos cinéfilos. É nessa hora que sinopses são lidas e relidas sem parar. O planejamento para a maratona do dia também é feito conferido inúmeras vezes. Ainda há o tempo de saída de uma sessão para a outra que não deixa de ser checado e rechecado minuto a minuto.

Porém, às vezes é difícil saber se o filme que está por vir será sucesso de público e de crítica ou não passará de um tremendo chute para fora. Afinal, as sinopses não passam de um resumo superficial sem profundidade. Ainda bem que há sempre um bate papo que ajuda a diminuir a angústia e a tensão acumuladas. Geralmente alguém reclama da organização ou do tamanho da fila para puxar conversa. Os mais desinibidos pedem sem cerimônia para dar uma olhadinha programação daqueles que não desgrudam dela. Aí, desconhecidos que provavelmente já se cruzaram inúmeras vezes antes da Mostra e nunca trocaram um simples oi, tornam-se amigos de longa data. Mas é graças a essas conversas, que as melhores dicas aparecem. Geralmente os palpites não vêm acompanhados de uma explicação muito lógica. O filme, na maioria dos casos, ganha força graças ao nome curioso ou por ser produzido em um país longínquo de difícil localização no mapa mundi. Mesmo assim, podem ganhar de goleada da opinião dos críticos profissionais.

E por falar em goleada, quando eu estava no primeiro lugar da primeira fila para a primeira sessão do Espaço Unibanco, um desses bate-papos começou. O segundo da fila me pediu emprestado o Guia da Folha e conversa vai, conversa vem, mais três pessoas haviam se juntado, e sugeriam opções imperdíveis sem o menor embaraço. Eis que de repente, surgiu o nome de um documentário que poderia ter passado batido: Amando Maradona. Como ninguém se manifestou, exclamei sem nenhum pudor: "Pelé Eterno já foi o bastante! Não vejo essa porcaria de jeito nenhum!". Então um dos cinéfilos deu uma risadinha e puxou o zíper do seu casaco e o abriu. Para a surpresa de todos, vestia uma camiseta da seleção argentina de futebol. Sem precisar dizer uma palavra, todos entenderam perfeitamente que o querido hermano da fila não medirá esforços para garantir um ingresso, acomodar-se confortavelmente em uma poltrona e vibrar com os lances do Pibe de Oro. Por sorte, a fila andou e eu pude comprar meus três ingressos para sexta-feira passada. No entanto, ainda acho que ele não precisou driblar ninguém e já arranjou uma entrada para a fita do Maradona sem estresse algum.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Um instante de festa

Depois do breve estouro, a espuma jorrou para todo lado. Onde estavam as taças? Ufa, bem à mão. Nem tudo se perdeu. Deu tempo de enchê-las delicadamente. Fechou os olhos, sorriu e sussurou uma frase que nunca sairá da memória dele. Os copos se tocaram no ar e o tilintar do brinde provocou o sorriso de ambos. Deram um gole e apenas ficaram se olhando. Ninguém precisava dizer mais nada.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Finalmente, o reencontro!

A caneta estava com saudades da mão direita. Restava-lhe apenas recordar os momentos que era conduzida pela mão e deixava suas marcas nas folhas de papel em branco. A caneta sofria porque sabia que as palavras não apareciam. E se elas ainda não estavam lá, o texto nunca nasceria. Pelo menos, durante seu sofrimento que parecia ser eterno, teve tempo para refletir por qual razão aquele parto é sempre tão importante.

Depois de muito pensar, chegou a uma conclusão que a deixou desesperada. A dupla tinha a obrigação de mostrar ao mundo todas as palavras que esperavam sua vez de aparecer e se juntar harmoniosamente para formar idéias. Mas as palavras agonizavam e as idéias já estavam definhando. Porém, o triste silêncio da página em branco foi interrompido quando a mão e a caneta se encontraram mais uma vez. As palavras se uniram, as idéias não desapareceram e o texto nasceu.