Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

A roupa nova do comandante

Apesar de estar praticamente com os dois pés na cova, Fidel Castro ressurgiu no dia em que apagou 80 velinhas. Sem o habitual discurso de duração indeterminada, Fidel apenas posou para algumas fotos que serviram para tranqüilizar uns e dar esperança a outros. O destaque dessa aparição ficou por conta da mudança no figurino. A famosa farda militar verde-oliva cedeu lugar a um agasalho fabricado por uma empresa alemã de materiais esportivos. Por que será que o aniversariante preferiu a Adidas e deixou de lado a Nike, a grande rival norte-americana? E o pijama de flanela, cadê?

Example
Fidel Castro repaginado

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Quando o trabalho empobrece o homem

Conseguiu um emprego em uma grande lanchonete que serve hambúrgueres sem parar. No folheto de boas-vindas, uma informação chamava a atenção: “Trabalhe com gosto, cresça conosco!!!”. O salário não era lá grande coisa. No entanto, pensou que se pelo menos conseguisse atender bem os clientes, talvez recebesse algumas gorjetas. Mas, ao receber o uniforme – um boné encebado, uma camisa surrada e uma calça apertada – mal sabia o que estava por vir.

No primeiro dia ficou atrás do caixa. Lá pelas onze horas da manhã, chegou um jovem obeso. Pediu dois hambúrgueres, um pacote gigante de batatas fritas e um copo com meio litro de refrigerante. Enquanto aguardava o pedido, uma baba escorria lentamente no canto direito da boca. Graças à pressa em engolir tudo aquilo, duas moedas de cinco centavos ficaram sobre o balcão. Então, quando o jovem esfomeado deu as costas, ele as apanhou e tentou enfiá-las no bolso da calça. Porém, não achou nenhum buraco, nem nas laterais muito menos atrás. Aqueles dez centavos escorregaram diretamente para o único destino possível: a gaveta da máquina registradora.

No segundo dia lhe deram um avental encardido e uma espátula com uma crosta de gordura endurecida. Atrás da chapa para fritar os hambúrgueres, constantemente mantida em uma temperatura escaldante, queimou os dedos da mão direita logo nos primeiros minutos. Então perguntou ao supervisor quando receberia luvas. A resposta veio ainda mais seca que o resultado final da fritura daquele disco de carne de procedência misteriosa: “Com luvas você trabalha menos!”. E pior, naquela manhã acordou resfriado e como não tinha onde guardar um lenço para assoar o nariz, o ranho pingava o tempo todo.

Já era mais de meio-dia, as filas aumentavam assim como os pedidos. Ouvia incessantes gritos de “mais rápido!”. Mas como poderia fritar os hambúrgueres e montar os sanduíches ainda mais rápido? As normas de empresa determinavam que os hambúrgueres não deveriam ser servidos em hipótese alguma nem mal-passados nem bem-passados. Então, cada grito entrava nos seus ouvidos como se fossem chicotes com um prego na ponta que o açoitavam sem dó nem piedade. Foi assim até a noite.

No final do expediente, o supervisor pediu para que seu jantar fosse preparado pelo novato. Sem reclamar da última ordem do dia, preparou um sanduíche bem gordo e suculento. E com muito gosto, cuspiu em cima da salada e assoou o nariz no pão. Deixou a refeição sobre a mesa sem dizer uma única palavra. O supervisor deu uma boa mordida e logo em seguida, ainda com a boca cheia, deixou escapar um elogio: “Nada mal, melhor do que aqueles que você serve aos clientes!”. Satisfeito após ter descoberto o segredo do sucesso daquela cozinha imunda, caminhou calmamente até o vestiário dos funcionários, trocou de roupa e jogou no lixo aquele uniforme incômodo com cheiro de óleo. Saiu pelos fundos e nunca mais voltou. Ninguém o procurou também.