Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Uma manhã qualquer

Ela acordou quando um raio de sol golpeou delicadamente seu olho direito. Talvez fosse o primeiro com força suficiente para atravessar a janela. Abriu os olhos e ele continuava dormindo tranqüilamente. Ficou com vontade de beijá-lo. Aguardou pacientemente até o momento em que o sono dele chegou ao fim. De repente, despertou e sorriu para ela. Finalmente poderia saciar o desejo que nasceu ao vê-lo dormindo e aumentou à medida que as primeiras horas do dia avançavam. Sem dizer uma só palavra, beijou-o delicadamente. Ao sentir os lábios dele, acreditava que havia ganhado aquele sorriso para sempre porque agora estava impresso nos lábios dela. Radiante, ela fechou os olhos e dormiu mais um pouquinho.

sexta-feira, 14 de julho de 2006

O tombo

Tropeçou. Não sabia se uma pedra ou um buraco havia provocado a repentina falta de equilíbrio. Só percebeu que cairia quando perdeu o controle das pernas e tentou proteger a cabeça com as mãos e os braços. Todo o esforço foi em vão. O cotovelo e a mão direita surportaram o peso do corpo e uma grande ferida apareceu. Pelo menos não fraturou nenhum membro. Mesmo assim, estava sujo. A calça bege agora possuía uma grande mancha acinzentada. Mas o pior era a ferida. Além da dor e do ardor, parte da imundice carregada pelos pés que iam e vinham sem parar naquela calçada se misturava ao sangue e a pele ralada no cimento. Levantou sozinho porque ninguém parou ao menos para rir. Ao dar o primeiro passo, uma chuva forte começou a cair. A água limpou a ferida e o purificou da dor.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Eis uma diferença nítida

Acordou com uma vontade irresistível de mudar. Mas mudar o quê? O mundo? Não! Sabia que era impossível. Desde o início dos tempos, o planeta nunca deixou de girar na mesma velocidade. Talvez as pessoas? Também não! Ele tinha certeza que elas eram iguais desde que se levantaram e passaram a caminhar com as duas pernas. Hesitou por alguns instantes. Felizmente não demorou segundos que poderiam se converter em uma eternidade. Um tempo sem fim que apenas provocaria a passividade em relação àquilo que o cerca.

Abriu os olhos, apanhou os óculos que estavam sobre o criado-mudo e limpou as lentes imundas. Saiu pela porta da frente e viu tudo mais claramente nas ruas por onde perambulou. Apesar de já ter visto tudo aquilo que já estava sempre nos mesmos lugares, sejam pessoas, casas ou prédios, as imagens diante de seus olhos se revelavam de um modo muito mais interessante. Agora vivia cada instante com muito mais intensidade. Só olhava para frente. Abaixar a cabeça, nem pensar. Tinha certeza que lá embaixo só havia pés e sujeira. Passou a acreditar com todas as suas forças que ainda há muito para ser visto, inclusive tudo que continuava no mesmo lugar.