Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Dois finais nada felizes

Sentado em uma poltrona, às vezes não muito confortável, dei boas risadas e derramei muitas lágrimas. Algumas cenas projetadas na tela grande são indiscutivelmente inesquecíveis. Os momentos vividos dentro e fora da sala de cinema também ficaram gravados na minha memória. No entanto, agora, só tenho razões para ficar triste. Rir do quê? Desta vez as histórias são reais e os finais, infelizes. Os projetores de dois cinemas paulistanos nunca mais serão ligados. As bilheterias não vendem mais ingressos no Top Cine, na Avenida Paulista desde a semana retrasada. E na última quinta-feira, o Vitrine, na rua Augusta, deixou de existir depois de 30 anos.

Nem tive tempo de me despedir pessoalmente. Só me resta guardar a lembrança das duas salas do cinema da Paulista e das três que ficavam na Augusta. O Top Cine, apesar do cheirinho de mofo, me apresentou ao cineasta francês François Truffaut e inúmeros outros cineastas que, embora menos conhecidos, mostraram que cinema não possui fronteiras. O Vitrine me acordou em várias manhãs preguiçosas de domingo. Mesmo com sono, mas com alguma disposição, assisti à produções francesas boas, razoáveis e muito ruins, em ciclos de cinema organizados pela Aliança Francesa. Não posso me esquecer dos cafés da manhã incluídos no preço do ingresso. Com 4 reais enganava o estômago com quitutes que muitas vezes acompanhavam a qualidade dos filmes.

O final deste texto será curto, porém doloroso. Fechado, talvez, para todo o sempre, somente o mofo vai poder freqüentar o Top Cine. Já o Vitrine, vai pagar todos os seus pecados. Em breve, suas duas salas serão convertidas em uma igreja evangélica.

1 Comentários:

At 05 junho, 2006, Anonymous Anônimo disse...

É realmente uma pena o fechamento de ambos os cinemas. Já temos tão poucas salas pela cidade e perder estes espaços muito bem localizados por falta de investimento é realmente muito triste.
Também tenho algumas boas recordações. O Top Cine apresentava uma vez ou outra algumas pérolas, me lembro de passar o dia inteiro vendo Truffaut e lamento por não ser possível apreciar estes filmes em outro cinema, fora dos festivais e mostras.
Confesso que apesar destas boas lembranças, só o frequentava em ocasiões especiais quando o ambiente praticamente fazia parte da atmosfera do filme, ambos nascidos na mesma época.
Estava ultrapassado, infiltrações, projetor, equipamento de som, iluminação das salas, poltronas e etc.
Já estava morto antes, apodrecendo com o tempo, sem investimento, recebendo poucas visitas e agora finalmente está sendo enterrado.
Sem o patrocínio fica realmente inviável fazer as reformas necessárias para oferecer a um público cada vez mais exigente uma estrutura compatível ao ingresso que é cobrado.
Foi esta necessidade que transformou o Belas Artes em HSBC, o Gazeta em Reserva e o Cinearte em Bombril. Aliás o Reserva foi o responsável pela reforma feita no HSBC Belas Artes ano passado que começava a perder clientes para o vizinho recém inaugurado.
É provável que os outros poucos dinossauros que ainda restam na Paulista, como o Gemini, deixem de existir pela mesma razão e novos posts virão.
Torço para que você possa nos contar em breve sobre algum investimento que salve o Top Cine do mesmo fim do Vitrine.

 

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