Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

quinta-feira, 7 de abril de 2005

O Papa não é o que parece

Para dar o último adeus ao Papa João Paulo II, milhões de pessoas foram até o Vaticano e esperaram 24 horas na fila para dar uma olhadela de 20 segundos no fétero exposto na Basílica de São Pedro. Quem não pôde chegar ao menor país do mundo, estava sem dinheiro para viajar ou não está nem aí para o velório, acaba, meio que sem querer, assistindo à interminável cerimônia pela televisão. Até a minha manicure, evangélica de carteirinha, jura de pés juntos que acompanha o velório sempre que tem um tempinho e não se cansa de tecer elogios ao sumo pontíficie. "Ele é um homem bondoso. Nunca faltou amor no seu coração", afirmou com um inexplicável brilho nos olhos enquanto retirava a cutícula do dedo anelar da minha mão esquerda.

No entanto, a declaração mais incrível ficou reservada para a hora do polimento das unhas da mão direira. Ao pegar a lixa, contou que o filho dela levou um baita susto ao ligar a TV e ver o defunto exposto para a multidão de fiéis. Para tranqüilizá-lo, ela o acalmou com uma justificativa que pode deixá-lo ainda mais traumatizado: "Filhinho, na verdade, o homem que está ali é o Papai Noel descansando. Ele está até com uma capa vermelha. Não tenha medo, ele já vai abrir os olhos e sair daí". Só espero que o tal Papai Noel da televisão levante-se antes do Natal. Caso contrário, o garoto vai ficar sem presente mesmo se ele for um bom menino durante o ano inteiro.

Ah, graças ao coração repleto de amor do Papa, a manicure arrancou um verdadeiro bife do meu dedo quando tirava a cutícula!

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