Anotações de um caderninho espiral

Impressões sobre aquilo que acontece ao meu redor

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

Uma palhaçada monumental

Quem chora, borra a maquiagem. Quem perde, ri à toa. Ontem, durante a badaladíssima cerimônia de entrega do Oscar, a ladainha se repetiu pela 77a vez. O novo apresentador, Cris Rock, contou aquelas piadinhas que, ano após ano, só quem está na platéia acha graça. Os atores encarregados de anunciar os vencedores se esforçaram ao máximo para criar um falso clima de expectativa no momento da abertura dos envelopes. E os contemplados agradeceram até o cara que abriu a porta da limusine que os deixaram na entrada do Teatro Kodak, em Los Angeles. Até aí nenhuma novidade!

Os comentaristas e jornalistas que cobriram o evento juram que desta vez a organização da festa deixou o conservadorismo de lado. Pela primeira vez na história do Oscar, alguns atores e atrizes anunciavam os indicados e entregavam as estatuetas fora do palco. No Brasil, um programa de auditório já não o utilizava, nos anos 80 e 90, do século passado. Durante o Topa Tudo por Dinheiro, Senor Abravanel, vulgo Silvio Santos, apresentava câmeras escondidas e jogava dinheiro para as colegas de trabalho no corredor do auditório. Se a Academia copiou o formato da atração tupiniquim, o ex-camelô também aprontou uma das suas. Desde 1958, os melhores da TV recebem de suas mãos o Troféu Imprensa, uma cópia fiel do Oscar norte-americano.

A entrada triunfal

Enquanto a Rede Globo transmitia o Fantástico e o Big Brother Brasil, apenas os felizardos assinantes de TV a cabo tiveram o privilégio de acompanhar ansiosamente a chegada das celebridades no tapete vermelho que dá acesso ao teatro. As mulheres, super maquiadas e com penteados que beiram o exotismo, desfilavam seus vestidos estilo bolo-de-casamento-com-quatro-andares. Os homens, um pouco mais discretos, caminhavam sorridentes com terninhos preto-vou-ao-velório ou trajes híbridos que misturam fraque e smoking. Só faltou a cartola!

E de volta ao Brasil, daqui um tempo, festas de 15 anos, formaturas e casamentos estarão repletos de vestidos como àqueles do Oscar. Se ninguém se lembrar de como era o modelo, o costureiro ou costureira poderá consultar em seu acervo de revistas de fofocas aquilo que a cliente deseja. Tanta cafonice pode ser prejudicial às debutantes, formandas e madrinhas? Não! Como essa é a premiação mais importante do cinema mundial tudo é lindo e fabuloso. Ninguém pode ser petulante o suficiente para criticar um vencedor, muito menos um vestido. A cerimônia sempre foi e será impecável do começo ao fim.

Desatualizados? Nunca!

Uma legião de cinéfilos acha que tem a obrigação de ir ao cinema para assistir aos filmes indicados. Assim, eles podem acompanhar a cerimônia de cartas marcadas e até formar uma torcida organizada. Será que ninguém percebe que o suspense é artificial? Todos os movimentos são tão ensaiados que o improviso fica mais intragável que um whisky paraguaio. Entretanto o que resta é o glamour que hipnotiza os telespectadores que suportaram as três horas de transmissão e permaneceram acordados até as primeiras horas da madrugada de segunda-feira.

Existem outras premiações!

O César é apenas uma das oportunidades que diretores, atores, atrizes e técnicos têm para receberem o devido reconhecimento pelo trabalho que realizaram. Infelizmente, também é conhecido como o Oscar do cinema francês. Que maravilha! Mas quem deu bola para a premiação ocorrida em Paris na véspera da cerimônia de Los Angeles? Nos jornais pouquíssimas linhas e nenhuma foto. Na televisão, só alguns minutinhos foram dispensados para citar que existe um evento que consagra a Sétima Arte na terra de Truffaut.

Se o César também é considerado um Oscar, porque o grande vencedor da noite ainda não está passando por aqui? L’Esquive levou a estatueta de Melhor Filme. Porém, não há cartazes nos cinemas. Muito menos o trailer é exibido antes das cinco produções indicadas para o Oscar norte-americano que, por sinal, já estão em cartaz faz um bom tempo.

Viva a indústria de entretenimento em massa que fabrica filmes como se fossem chicletes! A gente mastiga, o sabor acaba e depois cuspimos no lixo. Bom mesmo é nivelar por baixo e continuar emburrecendo os amantes do cinema com filminhos caríssimos que não acrescentam nada, absolutamente nada!

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